Por: Edison Ragassi/ Foto: Divulgação
Fundada em 1971, no bairro do Brás em São Paulo, nas instalações da Sama Autopeças e Pneus, como ANCAP (Associação Nacional do Comércio de Autopeças), a entidade surgiu para reunir os distribuidores de autopeças instalados no Brasil. Posteriormente recebeu o nome de ANDAP (Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças), a qual, nos dias de hoje, reuni em seu quadro de associados as principais empresas do setor no Brasil.
O atual presidente, Rodrigo Carneiro, conta nesta entrevista exclusiva, os principais momentos que marcaram estes 50 anos de história e também fala sobre como a entidade projeta o futuro do setor.
Revista Reparação Automotiva: Ao completar 50 anos de atividades, a ANDAP está lado a lado com a história da indústria automobilística nacional, a qual completou 50 anos em 2017. Quais os períodos que foram mais marcantes para a entidade?
Rodrigo Carneiro: Foram vários desde a criação da entidade, passando pela formação, e as diferentes crises econômicas, além de questões tributárias e outras situações adversas que o país enfrentou. A entidade sempre atuou para promover o fortalecimento da distribuição, trabalhando para o desenvolvimento do mercado.
RA: Desde a fundação, a indústria e o comércio evoluíram. Como a ANDAP acompanha esta evolução?
RC: Criada em 1971, inicialmente como Ancap – Associação Nacional do Comércio de Autopeças, posteriormente, passou a ser denominada de ANDAP – Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças, a entidade nasceu para dar uma identidade própria aos distribuidores que até então faziam parte de uma única instituição que reunia o comércio em geral de autopeças. Com a mudança, o mercado de reposição se fortaleceu e todos os elos da cadeia ganharam mais representatividade por suas respectivas entidades de classe.
RA: Atualmente quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos distribuidores de autopeças no Brasil para manter o negócio sustentável?
RC: Após meio século de trajetória, a ANDAP se renova para atender às novas necessidades do “figital”, unindo o físico ao universo digital. A proposta é atuar de forma consistente no online como fazemos há décadas no formato convencional. Começamos em 2020 com os eventos e reuniões online por conta da pandemia e a experiência surpreendeu positivamente e nos motivou a avançar no digital. Temos muitas novidades nesse sentido.
RA: O comércio digital avança rapidamente. Como a ANDAP avalia esta modalidade de negócios e quais os efeitos para o setor da reposição independente?
RC: A pandemia acelerou os processos para a digitalização das empresas e o mercado de reposição se mostrou forte e fantasticamente resiliente, bem como garantiu o transporte de pessoas e de bens de consumo ao longo da pandemia. O processo de digitalização é irreversível e deve avançar no setor de distribuição em todas as áreas para oferecer mais agilidade, bem como há a necessidade de estar presente nas plataformas digitais, criando mais um canal de vendas B2B que complementa o físico.
RA: O ano de 2021 foi repleto de incertezas provocadas pela pandemia da Covid-19. A indústria e o comércio em geral precisou buscar alternativas para se manter. Como a ANDAP enfrenta estes desafios? O desabastecimento de peças prejudicou os negócios dos associados?
RC: O setor de distribuição registrou resultado positivo, embora, sofreu quedas importantes no início da pandemia, quando as pessoas deixaram de circular de carro. Passado esse período veio a retomada e o balanço foi satisfatório em comparação a 2019. Isso aconteceu porque a manutenção de veículo foi considerada serviço essencial.
RA: Por causa da falta de peças e componentes, as fabricantes de veículos diminuíram as vendas e o segmento de usados e seminovos aqueceu. Quais consequências esta situação traz para o mercado de reposição, agora e no futuro?
RC:É importante destacar que a pandemia trouxe situações adversas, como paralisação de fábricas no início da quarentena não só no Brasil, mas no mundo inteiro. A China, primeiro país afetado com a doença, é o maior polo produtivo do setor e também reduziu as atividades no período, a alta do dólar e o momento de disputa comercial acirrada entre Estados Unidos e China acabaram afetando o setor de autopeças no Brasil. Somado a isso, o mercado se recuperou rapidamente, aliás, a reposição é bem resiliente em crises, uma característica muito positiva. Por conta de todos esses fatores, a situação deve se normalizar totalmente até os primeiros meses de 2022.
Ficou um gap entre produção e demanda, isso leva um tempo para se reestabelecer, o que é natural em uma condição tão diferente como a que estamos vivendo. A boa notícia é que o mercado não parou na pandemia, as oficinas continuaram atendendo, o que refletiu positivamente em todos os elos da cadeia produtiva, ao contrário de setores que pararam por completo. Insisto em afirmar que mesmo assim a distribuição conseguiu, com sacrifício de estoques reguladores e margens, manter a frota brasileira de veículos. A previsão para 2022 é que o setor se mantenha em evolução. A frota circulante envelhecida, com idade de 11 anos, também demanda manutenção e impulsiona o mercado. É importante destacar que 80% do total frota circulante é atendido pelas oficinas independentes. Além disso, o aftermarket se mostra resiliente e mesmo em crises tem ritmo estável de crescimento.
RA: Com 50 anos de atividades, o que o associado da ANDAP pode esperar da entidade? Qual será o futuro da distribuição de autopeças?
RC: A ANDAP continuará acompanhando as transformações do mercado e atenderá às mais diversas necessidades dos associados. O foco das empresas da distribuição deve estar na gestão do negócio. Entre os desafios do mercado, há o gap que existe entre o desenvolvimento tecnológico da produção e a tecnologia de gestão no restante do trade marketing. O mundo está no pós-digital e, em muitas áreas, estamos no analógico. Vamos continuar promovendo palestras que destacam esse assunto tão importante. O futuro do setor de distribuição será promissor com a evolução da frota circulante de veículos para atender a demanda e continuará a oferecer a mais variedade de itens em todo o território nacional, assim como já faz há décadas. O mercado de reposição possui uma série de complexidade devido à enorme quantidade de peças e o setor de distribuição tem todo o know-how de atuação, sendo responsável pelo abastecimento de peças para a manutenção de 80% da frota estimada em mais de 46 milhões de veículos.