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Produtividade nas oficinas mecânicas

Um olhar aprofundado sobre o maior vilão para o crescimento das oficinas reparadoras, a baixa produtividade

“Mas, tão certo quanto o erro de ser barco a motor e insistir em usar os remos”. Foi com essa frase, de um trecho da música Daniel na cova dos leões, escrita por Renato Russo que iniciei um seminário para 120 empresários em Recife (PE) sobre produtividade, em outubro de 2015. A frase, guardada a sua licença poética, nos faz refletir sobre a dura realidade das oficinas reparadoras de automóveis em nosso País, que insistem em não explorar todo o potencial que o seu negócio possui.

Passados pouco mais de cinco anos, desde a apresentação, é triste dizer que o cenário geral pouco mudou, apesar de muitos empresários presentes no evento serem impactados com os conceitos compartilhados. Posso dizer que de uma forma geral, até piorou, visto que a crise causada pela pandemia expôs as fraquezas das empresas, e a maior delas, sem dúvidas é a baixa produtividade. Nessa matéria exclusiva para a Revista Reparação Automotiva vou expor um olhar profundo como consultor especializado no setor automotivo sobre pontos críticos relacionados a produtividade, ou a falta dela.

O empresário acredita que oficina é comércio, quando na verdade é processo produtivo

Esse é o principal ponto a ser revisto. Na mente do empresário como a comercialização de peças está vinculada a atividade de reparação automotiva muitos entendem que uma oficina é um comércio, quando na verdade trata-se de um processo produtivo. Essa fundamentação advém da própria natureza da operação de uma oficina mecânica que é formada por etapas de trabalho bem definidas, consecutivas e correlatas, onde há aplicação direta de uma mão de obra especializada.

Esmiuçando um pouco mais esse conceito passamos a entender que quanto mais qualificada é essa mão de obra, quanto mais recursos a empresa possuir, e quanto mais estruturados forem seus processos internos, maior será a capacidade da empresa de realizar um trabalho, e no menor tempo possível. Sendo assim, chegamos a um ponto importante nesse contexto que é a percepção de que o principal valor de uma oficina reparadora de automóveis não reside no reparo do veículo em si, mas na sua capacidade de otimizar as horas para realizar essa atividade da melhor maneira possível. 

Quando não se tem esse correto entendimento a respeito do conceito de produtividade costumam ocorrer distorções que prejudicam o desenvolvimento sustentado do negócio. Essa cortina de fumaça que se forma diante do empresário o impede de enxergar a empresa da forma como deveria, o que se traduz no final das contas em baixo nível de aproveitamento da operação. 

E, justamente a ineficiência geral do negócio parte da falta de consciência do próprio dono da empresa a respeito do conceito de produção e produtividade, do mau uso ou até total falta de uso de ferramentas de gestão, e da não implementar rotinas, que muitas vezes sequer são compartilhadas com os colaboradores que fazem aquilo que entendem como certo, quando na verdade deveria fazer aquilo que a empresa precisa que seja feito.

Nesse cenário aqui desenhado, elenquei no quadro acima os principais fatores que caracterizam uma gestão voltada a visão do comércio, algo que faz parte da grande realidade das empresas reparadoras nacionais,, comparando a visão sob a ótica da produtividade, que apesar de parecer apenas conceitual é puramente factível de ser implementada.

Visão de comércioVisão da produtividade
Foco na venda de peças e nas margens de lucro.Foco no aproveitamento das horas de trabalho
Valor do serviço se torna apenas um complemento do orçamento, arredondando a conta para o cliente.Valor do serviço base é pré-definido considerando os recursos que a empresa possui, sendo utilizado um múltiplo que considera o tempo de execução do trabalho.

Utilização de métricas financeiras para medir o resultado do negócio como faturamento e ticket médio.
Métricas e indicadores dedicados que mensuram o aproveitamento do tempo e o desempenho individual e coletivo.
Quanto mais carros na oficina, maiores são as vendas.A quantidade de carros é adequada a capacidade de atendimento diário da empresa.
Funcionário é comissionado pela venda de peças e de serviçosColaborador é bonificado pela sua produtividade. Quem produz mais, ganha mais.
O reparador é visto apenas como um técnico que tem a função de reparar os veículos e oportunizar venda de peças.O reparador assume a função de produtivo onde cumpre os processos de forma a garantir a máxima eficiência na realização de cada trabalho.

Em média as oficinas produzem 50% menos do que poderia produzir

Uma oficina reparadora de automóveis é, em sua concepção, um negócio que converte horas de trabalho em receita. Portanto o indicador mais importante para mensurar o desempenho de sua oficina é o valor total de mão de obra vendido pela empresa no período. 

Essa métrica está diretamente ligada a quantidade de produtivos e o número de horas trabalhadas. Porém, o que mais importa nesse caso não é o a quantidade de reparadores trabalhando, mas sim quantas horas efetivamente foram convertidas em receita para a empresa. 

Quando analisamos a fundo os números de vendas de serviços em uma oficina fica muito claro que há uma grande ineficiência nesse processo de conversão de horas em dinheiro, seja por parte do próprio reparador, que não entrega a quantidade de horas trabalhadas por dia, seja pelo gestor da empresa que não valoriza corretamente o serviço. Quando somamos esses dois fatores, baixa entrega de horas trabalhadas e valores cobrados abaixo do ideal têm uma receita total que fica bem aquém do que a empresa poderia gerar. Em média, pelo nosso acompanhamento de oficinas atendidas, o valor vendido de serviço no mês é pelo menos 50% menos do que a empresa poderia produzir.

Com o objetivo de entender melhor essa realidade elencamos os principais fatores, tanto da parte do empresário, quanto do produtivo que tem influência direta sobre os baixos resultados apresentados.

Por parte do Empresário:

– Falta de conhecimento sobre precificação de serviços, cobrando um valor de serviços em desacordo com o nível de trabalho realizado;

– Falta de visão a respeito do conceito de conversão de horas em receita;

– Não cobrança de mão de obra em alguns serviços básicos, diluindo a média de valor de hora vendida para um patamar mais baixo;

– Falta de política comercial que concede descontos excessivos, principalmente em mão de obra.

Por parte do produtivo:

Apresenta uma obsolescência elevada de horas, causado pelo mal aproveitamento do tempo. Em muitos casos a quantidade de horas efetivamente trabalhadas fica abaixo de 6 horas por dia;

Falta de entendimento dos conceitos de produtividade colocando-o à margem do resultado da empresa, causada pela falta de consciência de sua importância para o processo como um todo;

Entendimento de que sua atribuição é tão somente a de consertar os veículos.

Fica muito claro, portanto, diante do que foi aqui abordado, que o não entendimento dos fundamentos de produtividade para as oficinas faz com que os resultados apresentados pela maioria dessas empresas estejam muito abaixo do potencial que elas possuem. 

O entendimento que tiramos a respeito disso tudo é que ter uma visão puramente comercial não é um fator impeditivo ao crescimento do negócio, visto que há muitas empresas que cresceram sem sequer tomar parte dos fundamentos básicos de produtividade. Mas, que se tivesse adotado tais conceitos teriam conseguido obter os mesmos resultados financeiros, ou até melhores, com menor desprendimento de energia e em um período de tempo muito mais curto. Pense nisso.

Alexandre Costa– Alpha Consultoria
Consultor sênior especializado em inovação para o setor automotivo, com 25 anos de experiência. Palestrante convidado a participar dos principais eventos do mercado em todo País e diretor da Alpha Consultoria, empresa dedicada ao segmento automotivo.
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