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O mercado e a pandemia

Levantamento feito pela GiPA mostra como está o desempenho das empresas de reparação automotiva por causa do isolamento social

Criada na Europa em 1.986, a GiPA automotive afetermarket intelligence é uma entidade  internacional que estuda e faz levantamentos sobre o setor de pós-vendas. Ela atua nos segmentos leves, pesados, de duas rodas e também agrícola. 

Com escritórios na Argentina, Alemanha, China, Itália, no total são 35 países, este ano, a filial brasileira da GiPA completa 20 anos de atividades. 

Nesta fase sem precedentes da história da humanidade, a GiPA estuda as consequências da pandemia causada pela COVID-19 no setor de reparação automotiva.

Laurent Guerinaud, diretor da GiPA Brasil, explica que a entidade escolheu as oficinas reparadoras de automóveis de todo o Brasil para medir o impacto da pandemia, “A partir de março começamos a monitorar as atividades das oficinas. A cada duas semanas entramos em contato para avaliar o nível de atividade do mercado. E o que constatamos é que no final de março, apesar de as oficinas serem consideradas serviços essenciais, 40% das empresas pesquisadas, o que inclui oficinas independentes, de concessionárias e lojas de pneus estavam fechadas. Entre as abertas, a queda de atividade era de 74% e se considerar as que estavam fechadas a queda era de 85%, e na proporção as concessionárias é que mais tiveram as oficinas fechadas, porém, no final de maio, a atividade nas oficinas das concessionárias era maior que a das oficinas independentes. Outro fator importante que também chamou a atenção entre as empresas abertas foi o total de funcionários trabalhando, levando em conta as oficinas abertas e fechadas, 59% dos funcionários não estavam trabalhando”.

Laurent Guerinaud, diretor da GiPa Brasil

O pico de oficinas fechadas ocorreu no inicio da pandemia, quando os governos de uma maneira geral decretaram estado de emergência e isolamento social. A partir daí, as empresas procuraram se adequar as normas de segurança e higiene (leia nossa edição especial Biossegurana), e voltar ao trabalho. “Nós constatamos que depois destas primeiras semanas, a proporção de locais abertos e atividades voltaram a crescer. A queda foi abrupta e a retomada progressiva. No final de maio, por exemplo, a queda de atividade nos locais abertos chegava a 59% e 95% das oficinas de reparação estavam abertas. Com isso, podemos até supor que estes 5% fecharam definitivamente”, relata Guerinaud.

A queda no movimento das oficinas aconteceu em todas as partes do mundo. Na Espanha, onde o segmento de reposição automotiva é semelhante ao do mercado brasileiro, os efeitos de retração foram bem maiores. “No final de março na Espanha a queda de atividade era de 98%, sendo assim, podemos considerar que as oficinas estavam atendendo os veículos de serviços essenciais, como ambulâncias, viaturas da policia e bombeiros. Aconteceu também lockdown obrigatório, os motoristas foram impedidos de circular até para levar o carro na oficina, isso explica a queda, que durou mais tempo que no Brasil. Já a retomada foi um pouco mais rápida, assim que começaram a liberar as atividades, em maio, a queda no movimento das oficinas espanholas beirava os 50%. Mas em cada país os resultados são diferentes, pois dependem das medidas que as autoridades implantaram. O mesmo vale para o Brasil, por tratar-se de uma republica federativa, cada estado implantou medidas, as quais refletem no desempenho do aftermarket”, explica o diretor da GiPA.  

Proprietários de veículos esperam para fazer manutenções e revisões

A GiPA automotive afetermarket intelligence também ouviu os proprietários de veículos para identificar a evolução do uso do automóvel e a postura em relação as manutenções, pois eles são os principais clientes das oficinas reparadoras. “Enfrentamos dois tipos de queda de atividade, uma por que o motorista ficou trancado em casa, passou a trabalhar em home office, e também porque tudo parou. Estas manutenções que não foram feitas no inicio da pandemia, uma parte passaram a ser feitas no inicio da retomada, ou seja, uma manutenção preventiva que estava programada para março, por exemplo, só foi feita em junho, julho, quando o motorista voltou a sair”, fala o diretor da GiPA Brasil.

Fonte: GiPa Brasil
Fonte: GiPa Brasil

As mudanças de hábitos e fatores econômicos como, por exemplo, aumento do número de desempregados, profissionais que atuam no setor informal e ficaram sem renda, também contribuem para a queda de movimento no setor. “Existem algumas manutenções que não serão repostas, mesmo com o motorista circulando, por causa da crise econômica e outros fatores. Reparos de carroceria, por exemplo, não impedem o motorista de rodar e se ele não tem dinheiro não vai reparar”, avalia ele.

Mas há um fator que não é possível recuperar, os quilômetros que deixaram de ser rodados por causa do isolamento. “Um menor uso do carro leva a menos número de manutenção, isso não é proporcional, porque as manutenções preventivas e de garantia seguem o padrão de quilômetros rodados ou tempo, mas é necessário pensar o quanto estes quilômetros que não foram rodados impactarão o mercado no futuro. Por enquanto nesta retomada, as oficinas recebem os veículos que adiaram as manutenções, porém, aqueles que depois de realizar as manutenções continuarão parados, irão demorar a voltar para as oficinas”, alerta Guerinaud.

O que esperar do ano 2020?

Desde março, a pandemia segue, apesar dos testes com algumas vacinas, a recomendação das autoridades sanitárias é de que as pessoas evitem aglomerações, reuniões e atividades que incluam muitas pessoas em um mesmo espaço. 

Com isso, uma boa parte da frota continua parada. “A GiPA desenvolveu uma ferramenta, batizada de Delfos, como o oráculo no templo do deus grego Apolo,  para simular a atividade anual do aftermarket até o final de 2020. Em todos os cenários simulados, o resultado foi que as oficinas das concessionárias terão a maior queda no faturamento”, prevê.

Fonte: GiPa Brasil

Porém, as projeções feitas pela GiPA mostram que as oficinas independentes, também terão queda no faturamento. “Que o ano vai encerrar em queda, não há dúvida, mas, o que é difícil de prever e pode ser discutido e observado é de quanto será esta queda? 

Isso porque uma parte da queda é recuperável, apenas uma parte. Já os quilômetros que o motorista deixou de percorrer irão impactar no resultado final. Estes quilômetros não rodados não serão recuperados. O que pode ser recuperado são as revisões e manutenções adiadas”, avisa ele.

Nesta situação sem precedentes, o reparador precisa rever estratégias, buscar atrativos e incentivar o proprietário de veículo a fazer as manutenções, agora por tempo e não por quilometro rodado. “Este é o momento do reparador independente ser pró-ativo, o que não é tradição em nosso setor. Esta é a hora de ligar, chamar os clientes. Esta é uma prática já utilizada pelas concessionárias, porém não pela maioria, que os independentes podem recorrer. 

O motorista não tem consciência de que a manutenção preventiva também tem prazo, não só quilometragem rodada. Além disso, um veículo que fica parado por muito tempo necessita de uma revisão, e se o motorista não for avisado é uma perda de oportunidade. Sempre foi necessário, porém agora é mais ainda, quando o carro entra na oficina, deve ser checado 100% dos itens que necessitam de manutenção preventiva. As pessoas ainda evitam sair de casa, quando sai significa que deu prioridade para a oficina. Então esse cliente deve ser avisado de tudo que precisa ser feito no carro na mesma vista, para não ter que voltar. 

Outro serviço que não era comum é o leva e traz. Este é um serviço que precisa ser implantando pelas oficinas. Também implantar serviços para atender o proprietário do veículo em casa. 

Agendamento é muito importante e, claro, seguir as medidas de higiene e segurança. Tem cliente que não se sente seguro quando entra na oficina e os funcionários estão sem máscara. Estes são exemplos  de práticas não convencionais que podem auxiliar a alavancar negócios. O reparador precisa ter em mente que há uma frota e ela necessita de manutenção. Se uma oficina próxima fechou é uma oportunidade, pois os clientes daquela oficina irão necessitar de outra”, recomenda Laurent Guerinaud, diretor da GiPA Brasil.

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