Por Alexandre Costa / Foto: Divulgação
O anúncio do encerramento da produção de veículos em solo nacional realizado pela Montadora Americana deixou a todos perplexos. A determinação para o fechamento das fábricas no país irá gerar em torno de seis mil demissões até o final do ano, em um momento econômico delicado. Aos olhos de muitos foi justamente a atual situação econômica do Brasil que teria sido o fator decisivo para a decisão da Montadora. Bem, posso afirmar que não necessariamente, afinal esse é um cenário enfrentados por outras Montadoras aqui no Brasil. Quando analisamos mais a fundo a questão entendemos que o fato de fechar unidades fabris em nosso País é parte de um processo de reorganização da empresa, que se iniciou há alguns anos. E o encerramento da operação de caminhões no Brasil em 2018 já fazia parte dessa reestruturação. Há muito mais por trás dessa decisão, e é por isso que resolvemos elaborar esse artigo em caráter especial.
A FORD bem que tentou ser competitiva no Brasil, mas apesar de alguns sucessos comerciais, (lembre-se que foi a empresa que lançou o segmento de SUV no País com o Ecosport ) veículos que nunca foram bem vendidos como Focus e New Fiesta, fizeram a Montadora perder espaço no Mercado. A Ranger, que possui público cativo, nunca conseguiu ameaçar o domínio da rival Hilux. O Fusion, por sua vez, durante algum tempo dominou o segmento de veículos executivos de grande porte, mas que na verdade é um mercado pequeno. Vale lembrar ainda, da mal sucedida iniciativa de Join Venture da FORD com a VW no final da década de 1980, que não trouxe nenhum ganho significativo para a empresa americana. Isso mostra que há quase quarenta anos que a Montadora vem tentando encontrar seu espaço no Brasil.
FIM DOS SEDÃS E CARROS COMPACTOS
No Mundo todo, e é bom que isso fique claro, a FORD dá sinais de mudança em seu portfólio e isso afeta diretamente os sedãs e carros compactos. O próprio portfólio da empresa em seu País de origem apenas o Fusion ainda é mantido como sedã, até a chegada de um novo modelo, que será um Crossover. Na Austrália e Alemanha não há mais sedãs. Na Inglaterra, assim como nos EUA, o Mondeo ( Fusion ) ainda é vendido, mas com fim de produção já estimado. Não penas a FORD, mas sua subsidiária de luxo, a Lincoln, também já anunciou o fim da produção do sedã Continental e MZK para focar em SUVs. E, no caso de carros compactos, na Índia, México e Argentina ainda se mantém as vendas do KA, assim como se fazia no Brasil, mas nos outros mercados citados, como Alemanha e Inglaterra, o carro de entrada é o New Fiesta, e nos EUA e Austrália nem há modelos compactos no portfólio.
FOCO EM SUVs E ELÉTRICOS
Não há uma montadora sequer no Mundo que não tenha em seu portfólio um modelo de SUV. Até mesmo marcas de prestígio como Porsche, Bentley, Aston Martin, Lamborghini e agora, até mesmo a Ferrari, já deixaram claro que é um segmento de extrema importância para a perenidade de suas operações. Para a FORD não seria diferente, e nos EUA, País sede da empresa já são oito modelos de SUVs e Crossovers. O Ecosport inclusive, projeto mundial lançado primeiramente no Brasil, hoje é fabricado nos EUA, Alemanha, Inglaterra, México, Argentina e Índia. De agora em diante, esse será o foco da Montadora, e claro mantendo o investimento nas Pick-ups que ainda é um segmento interessante para a empresa. Essa gama de SUVs, Pickups e Crossovers terá ainda uma forte renovação tecnológica com o lançamento nos próximos anos de versões elétricas desses modelos. O passo inicial já foi dado e seu primeiro modelo 100% elétrico, o Mustang Mach E já é comercializado nos EUA, Alemanha, Inglaterra, e em breve chega ao Brasil.
VENDAS FORD NO BRASIL
Esse foi com certeza o ponto chave da decisão. Se analisarmos o ano de 2020, a FORD no Brasil manteve o novo Ka entre os cinco modelos mais vendidos do País, em sua versão hatch ( 67 mil unidades ) e ocupando o vigésimo lugar com a versão sedã ( 25 mil veículos ). O antes bem sucedido Ecosport, ocupou a vigésima terceira colocação no ranking de vendas com menos da metade das vendas de seu rival direto o VW Tcross, que com 60 mil unidades vendidas ocupou a sétima colocação. A montadora que já esteve entre as “quatro grandes do setor” fechou 2020 com a sexta posição, com 7,39% do mercado, ameaçada cada vez mais pela JEEP com o portfolio baseado em apenas dois modelos e uma única unidade fabril. O recém lançado Territory, que parecia ser o grande opoente, sequer aparece no ranking dos cinquenta modelos mais vendidos em 2020, perdendo para outros concorrentes como VW Tiguan e Chevrolet Equinox.
FORD QUER SER A JEEP
As baixas margens de lucro no segmento de entrada tornaram as boas vendas do FORD KA não tão interessantes para a Montadora. Enquanto produz seu compacto, com preço de venda inicial de R$ 51 mil, resultando no que poderia ser um excelente quinta posição no ranking de vendas, sua atual rival, a JEEP, com um portifólio de apenas dois SUVs, ocupa o oitavo e nono lugar nas vendas, o que somou, só em 2020, quase 110 mil unidades comercializadas. Lembrando que a sua rival Norte Americana, tem produtos com o dobro do valor de seu best seller, uma rede de concessionárias dois terços terço menor e uma única planta de produção. Ou seja, a JEEP tem total foco em um segmento de maiores margens e ainda consegue entregar volume, mesmo com uma estrutura de produção e vendas muito menor. Isso chama atenção para a empresa centenária de que há um erro estratégico em sua operação.
O QUE ESPERAR DA FORD NOS PROXIMOS ANOS
A marca irá se reposicionar no mercado mundial e nacional. Como foco em modelos SUV, Crossovers e pick-ups a montadora vai mudar significativamente seu portifólio, com produtos mais sofisticados e de maior valor agregado. É esperado para os próximos anos um Portfolio com Territory, Novo Bronco, Ranger, Mustang e o elétrico March E, e quem sabe o Ecosport vindo da Argentina ou México.
O QUE MUDA PARA O REPARADOR
Nada muda. No Brasil o mercado de Reposição é muito forte e terá condições de manter o fornecimento das peças de reposição para os modelos da Marca que serão descontinuados como KA e Ecosport ainda por muitos anos. Apenas os produtos como ficaram mais sofisticados exigirão uma maior dedicação do reparador mas nada que ele já não encontre em marcas como JEEP e Hyundai.