Conheça quais os direitos, deveres e responsabilidades do consumidor e reparador, quando o cliente leva a peça para realizar o reparo
Um assunto que tem preocupado, e muito, as empresas reparadoras é o fato de que, cada vez com mais frequência, os clientes optam por comprar e levar as peças para serem aplicadas em seus veículos.
O processo costuma acontecer sempre da mesma forma: o cliente leva seu veículo na oficina, é feito o diagnóstico do problema e a ele é passado um orçamento completo, que abrange peças e serviços.
Mas, por conta da enorme facilidade de se realizar uma pesquisa de preços via internet, o dono do veículo encontra as peças apresentadas no orçamento por valores menores do que aqueles oferecidos pelo reparador. Assim, o cliente, rapidamente, compra esses componentes por conta própria.
Ocorre que, é importante pensarmos nisso, principalmente quando as peças são compradas pela internet, o consumidor acaba por, muitas vezes, não ter um real conhecimento quanto a procedência e a qualidade dos produtos comprados.
E esse detalhe pode, sem dúvida, acarretar um problema para oficina, porque vai impactar diretamente na qualidade final do serviço executado.
O que, então, a empresa reparadora pode fazer, legalmente falando, quando isso ocorre? A primeira providência é resguardar a oficina. Para isso, o reparador deve documentar toda a negociação utilizando uma ferramenta que eu chamo de “Campo de Observação”, que é o local onde ele deverá anotar tudo que fugir à normalidade das negociações diárias da oficina, e colher a assinatura do cliente, para validar o documento.
Neste caso, de o cliente levar as peças para serem aplicadas em seu veículo, minha orientação é para que ele deixe claro o ocorrido da seguinte forma:
“Para a execução do serviço orçado o cliente “Tal” trouxe “tais e tais peças” para serem aplicadas em seu veículo, que foram adquiridas por ele fora deste estabelecimento comercial. Assim, fica ciente que a garantia referente às mencionadas peças, se necessária, não será prestada por esta empresa reparadora”.
Tendo isso documentado e assinado, caso ocorra um defeito em qualquer das peças (e ficando comprovado este defeito), a oficina se isenta da responsabilidade de prestar a garantia referente a esses produtos, ficando responsável, apenas, por prestar a garantia relativa ao serviço que executou.
Com isso, no caso de haver a necessidade de aplicar uma nova peça, trocada em garantia, o reparador poderá e deverá cobrar novamente o serviço.
Outra forma de precaução, que deve ser adotada pela oficina, é também fazer constar uma observação sobre a qualidade da peça – principalmente quando o cliente compra a mais barata e de pior qualidade do mercado.
Ainda dentro deste assunto, uma dúvida que sempre acaba aparecendo no setor da reparação automotiva é: eu posso cobrar mais caro a mão de obra se o cliente não comprar as peças comigo?
Pode sim!
Claro que, para isso, o cliente deverá ser informado antes de autorizar a execução do serviço.
O ideal é que fique um aviso afixado na parede, em local visível da recepção e, também, outro aviso impresso no próprio orçamento a ser entregue, baseado no seguinte:
“O presente orçamento diz respeito ao serviço de reparação automotiva completo, com as peças necessárias inclusas. Caso as peças sejam adquiridas pelo cliente em outro estabelecimento, o valor referente aos serviços sofrerá alteração”.
Assim, a empresa reparadora que tomar essas medidas não estará agindo de forma ilegal e, com isso, não precisará ter qualquer receio de ser penalizada.
Como os reparadores se comportam
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Cleber Andrade, Secretário do grupo NAM- Núcleo setorial de Auto Mecânica da Associação empresarial de Ananindeua (PA) e proprietário da Auto Mecânica Segmento
O cuidado de aplicar uma peça de qualidade na manutenção de um veículo faz com que o serviço tenha qualidade. Surge, então a questão do cliente trazer e exigir peças com custo e benefícios reconhecidos no mercado, sem o desconforto de ser surpreendido com a má qualidade durante o uso.
Muitas vezes acontece a situação que ele mesmo compra, dessa forma tentando fazer redução de custos. Esse tipo de atitude faz com que a oficina tenha retrabalho e ainda fique criticada porque o serviço não ficou bom.
Para evitar esse tipo de atitude, nós procuramos os lugares específicos que tenham marcas que não nos trazem problemas, selecionamos as melhores e não permitimos que o cliente traga as peças, pois o mesmo não possui conhecimento técnico. Ele tenta economizar dinheiro no momento, mas, para a oficina esse não é o melhor caminho.
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Roberto Turatti, o Billy, proprietário da oficina Invest Auto, Balneário Comburiu (SC)
Na situação de um cliente trazer a peça para a instalação no veículo eu sempre faço a análise do cliente, histórico do mesmo e também do seu veículo, após esses esclarecimentos, que dá trabalho, mas evita dores de cabeça. Nunca faça um quebra galho, pois no mesmo galho pode ter espinhos!
Se a empresa decidir instalar, é opção de cada uma, mas eu procuro tratar e esclarecer todas as possibilidades. Antes de qualquer ação, formalizo e deixo o cliente ciente antes e não após a instalação. Também vale colocar no histórico do veículo, caso não possua sistema, pode fazer manuscrito. Neste documento deve constar a quilometragem, data do serviço, marca e qualidade do produto, e se possível a nota fiscal de compra.
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Pedro Paulo, Presidente do Sindirepa-PE e proprietário da oficina Import Peças, Recife (PE)
Quanto representa no faturamento para uma oficina a mão de obra, os insumos as peças, óleo e retifica? A média gira em torno de 60% a 40%, neste caso o negócio não pode abrir mão de fornecer as peças e insumos. Com esta porcentagem, o empresário para se manter precisa triplicar o custo da mão de obra. Sendo assim, no nosso Estado, a oficina que trabalha com estas proporções não aceita que o cliente leve a peça, só em casos muito específicos. Outro caso que precisa ser levado em conta é o conhecimento técnico do cliente e vendedor, seja no varejo ou internet. A possibilidade do cliente comprar a peça errada é enorme, principalmente na internet, porque nas lojas especializadas on line, autopeças é só mais um item e o atendente nem sempre é especializado. Quando o cliente compra a peça, por falta de conhecimento, ele pode comprar uma peça falsificada, e ai vai levar problema para o reparador, pois a garantia é responsabilidade do profissional que aplica a peça. Isso porque quem aplica é que tem o conhecimento técnico. E mesmo que você não responda pela peça, vai responder pela mão de obra. Por isso não compro o problema dos outros, eu já tenho os meus. Se fosse lei o cliente trazer a peça, eu mudaria de ramo.
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Alberto Martinucci, proprietário da GDI Tech, especializada em limpeza e diagnóstico em válvulas de injeção, São Paulo (SP)
Quando eu vou à pizzaria, eu não levo a mussarela e o molho para o pizzaiolo. A relação do reparador com o cliente é a mesma. Quem tem o conhecimento técnico para escolher a peça é o reparador. Além disso, ao aplicar a peça, o profissional passa a ser o responsável pela garantia. Por isso eu não aceito que o cliente traga a peça, mesmo que o cliente escolha optar por outra oficina.