Problemas na transmissão automática. Os filtros podem ser os culpados?
Vamos encarar os fatos. Nem mesmo as pessoas de hoje são como as de antigamente! Parece que todos os aspectos de nossa vida foram tocados por esta simples verdade. Assim sendo, não podemos esperar que as peças sejam feitas da maneira que eram feitas antigamente. Não é porque uma peça é nova, que ela está livre de defeitos, ou funcionará sempre bem. Devemos lembrar que uma peça nova nunca trabalhou, o que implica que não temos como saber se ela funcionará até ser instalada no veículo! Após passar por alguns apuros com peças que saíram da caixa, a suspeita quanto ao funcionamento de uma peça nova têm aumentado bastante. Uma peça que normalmente tomamos como boa tem sido hoje uma das maiores culpadas quando diagnosticamos numerosas reclamações de mau funcionamento da transmissão: o filtro da transmissão automática
O filtro da transmissão automática parece que seria o último a dar defeito, mas muitas marcas de baixa qualidade estão no mercado e parece que a probabilidade de que apresente defeitos é cada vez maior. Porém, devemos dar aos fabricantes o benefício da dúvida em primeiro lugar, e centrar a consideração em vários níveis.
A tecnologia aplicada à fabricação de filtros hoje, para modelos de transmissões mais atuais se tornou uma ciência em si. Por exemplo, a transmissão 10L80, de 10 velocidades possui dois elementos filtrantes (elemento médio de filtragem e elemento fino de filtragem), que é controlada por uma válvula termostática interna, assim como a transmissão Toyota DCVT aplicada no Corolla 2021 em diante, que seleciona qual filtro será utilizado durante o funcionamento da transmissão.
Com este exemplo em mente, é preciso estar ciente que mudanças sutis foram introduzidas na tecnologia dos filtros, visando torná-los mais adequados às necessidades das transmissões modernas. Neste artigo, vamos dar uma olhada mais de perto nos filtros para ver como se precaver de adquirir filtros com baixa tecnologia de confecção!
A FUNÇÃO DE UM FILTRO DA TRANSMISSÃO
O filtro de fluido de uma transmissão automática deve reter resíduos e contaminantes, permitindo que o fluido limpo seja sugado pela bomba com uma restrição mínima de fluxo. Ele é projetado para fornecer um caminho simples através do material filtrante para que o fluido entre na bomba, porém os resíduos não.
O espaçamento micrométrico do elemento filtrante e a área total filtrante determina o nível de filtragem bem como a capacidade de fluxo do filtro. A mais significante restrição de fluxo, causada pelo filtro, ocorre quando o fluido está abaixo da temperatura de trabalho. Um filtro muito velho também causa restrição devido aos contaminantes e resíduos já retidos e que bloqueiam o fluxo. A melhor maneira de preservar a vida útil da transmissão é seguir o programa de troca regular de fluido e filtro, assegurando desempenho sempre máximo do conjunto.
QUANDO AS COISAS NÃO DÃO CERTO
Problemas relativos à filtros são difíceis de diagnosticar porque não esperamos que o filtro seja o problema, não é mesmo?
Desde as transmissões TH350, temos observado problemas com os filtros. Aprendemos com os problemas do passado a aplicamos nossa experiência com os filtros mais atuais. Conforme mencionado anteriormente, a tecnologia dos filtros evoluiu bastante, a ponto de tornar o filtro um componente de muita precisão. Então, quais tipos de problemas podem ser causados por um filtro ruim?
O filtro é o “canudo” que a bomba utiliza para pegar o fluido do cárter e enviá-lo para toda a unidade. O fluxo de fluido que sai da bomba deve ser igual a saída da bomba em todas as temperaturas e sob quaisquer condições de carga do veículo. Se o filtro não for capaz de atender às demandas da bomba e da transmissão, ou houver uma falha em sua construção ou projeto, podemos enfrentar as seguintes reclamações:
- 1.Ruído de turbina sob aceleração e altas rotações do motor.
- 2.Flutuação nas mudanças ou pressão de linha reduzida.
- 3.Falha na mudança de marcha.
- 4.Patinação em acelerações.
- 5.Códigos de falha de desempenho.
- 6.Problemas com abastecimento do conversor.
- 7.Falha na aplicação da embreagem do conversor.
- 8.Aeração do fluido e superaquecimento.
- 9.Veículo não se movimenta.
Se suspeitarmos que o filtro está trincado ou existe uma abertura externa em sua ponta de sucção, podemos colocar mais fluido na transmissão (apenas por motivos de teste) para ver se os sintomas de dirigibilidade desaparecem.
INSPECIONANDO O FILTRO
Alguns projetos de filtros necessitam de materiais e processos de precisão para assegurar que seu desempenho atenda as especificações do fabricante da transmissão. O material filtrante, material da carcaça e processo de montagem impacta diretamente o produto final. Devemos sempre comparar o filtro em questão, que estamos adquirindo com o filtro original, quando estivermos em dúvida de sua qualidade. Frequentemente uma inspeção visual revela diferenças em sua aparência.
O teste de desempenho do filtro não dá resultados práticos. Contudo, testar sua integridade é relativamente fácil. Temos aqui um teste simples que podemos executar antes de instalar um filtro na transmissão. Utilizando um testador de vácuo, coloque a entrada no filtro enquanto aplica vácuo ao pescador da bomba (figura 3). Permita que a leitura de vácuo se estabilize em valor final. Não deixe o vácuo total aplicado por um período de tempo muito longo. A carcaça do filtro não é projetada para suportar o vácuo por muito tempo. Note que a leitura não deverá cair. Se uma queda ocorrer, isto poderá indicar uma trinca na carcaça ou emenda mal feita. Vazamento na carcaça indica falha de construção que poderá causar problemas na captação de fluido e alimentação do conversor de torque.
Os filtros construídos com metal e plástico são críticos para teste quanto a vedação em suas superfícies. Por projeto, estes filtros não passam nos testes tão bem quanto os outros moldados somente em plástico. A junção que fixa o material filtrante é a região onde aparecem vazamentos mínimos. Nestes filtros, é normal um vazamento pequeno, mas o valor de vácuo não deverá cair.
Podemos realizar um teste similar utilizando ar comprimido, mas devemos tomar cuidado para não deixar a pressão subir demasiadamente (figura 5). A pressão pode criar vazamentos. Podemos espirra fluido ATF nas superfícies do filtro em questão, vedar a entrada, e aplicar ar comprimido (Não maior que 30 psi ou 2 bar). Observe se existem bolhas em excesso nas emendas ou outras áreas críticas. Note que áreas não submersas no cárter com fluido de transmissão não deverão vazar.
Uma outra área crítica é o material filtrante. Embora ele esteja em geral fora da vista, podemos utilizar uma câmera ou um boroscópio para inspecionar internamente o filtro (figura 6). De novo, utilize um filtro original como comparação. É claro que a aparência não garante um bom funcionamento, mas se ela for muito diferente do projeto de fábrica, podemos não querer arriscar em utilizar uma marca que poderá nos trazer problemas. Algumas são:
- 1. Material filtrante desalojado ou solto, causando restrição.
- 2. Espaçamento incorreto do material filtrante (mícron) ou não adequado para a aplicação (muito fino causa restrição, e muito largo permitem que os contaminantes passem.
- 3. Suporte interno incorreto para o material filtrante (estrutura do filtro).
Embora uma simples inspeção visual não nos dirá muito sobre a capacidade de desempenho do filtro, ela poderá nos alertar para observar mudanças sutis em sua estrutura e funcionamento.
Com uma grande cadeia de fornecedores hoje plagueando nossa indústria, não é fácil se assegurar da qualidade dos componentes que utilizamos em nosso trabalho. Mesmo as marcas mais tradicionais de nosso mercado hoje devem ser verificadas, quanto à qualidade dos produtos atuais. O desenvolvimento de novos hábitos para inspecionar peças nos ajudará a identificar componentes defeituosos e permite atender nossos clientes de maneira satisfatória.
Até a próxima edição da Revista Reparação Automotiva e um ótimo mês de trabalho a todos.
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