Com a crescente evolução tecnológica dos veículos, não é mais possível acompanhar apenas com as informações do dia a dia. É cada vez mais importante ter acesso à informação técnica dentro da oficina para fazer reparos nos veículos, gerar uma mudança de cultura dentro da oficina.
Um exemplo são os famosos códigos DTC P161A, P161B, P1639 dos veículos FORD. O reparador, ao se deparar com esses códigos e a luz de injeção acesa no painel, via que o carro funcionava e aparentemente estava “ok”, apesar da luz de injeção acesa, e após apagar o erro, o veículo não pegava mais. E é aqui que o problema acontece e a importância da nossa mudança de cultura. Eu também era assim, apagava erros para ver o que acontecia (e muitas vezes o resultado não era bom), mas percebi que estava errado e mudei minha abordagem na oficina. Agora, quando o carro chega na oficina, aplicamos o check list padrão e mesmo em falhas mais simples, faço uma pesquisa antes, pois o defeito relatado pelo cliente pode ser, por exemplo, um recall.
No caso dos famosos DTCs da Ford, ao pesquisar, você encontra a seguinte informação:
Ford DTC P062F
- Fabricante: Ford
- Código: P062F
- Definição: Erro EEPROM do módulo de controle interno
- Descrição: Este DTC é definido quando a memória somente leitura (ROM) do PCM foi corrompida.
- Causa:
- Circuito PCMRC aberto
- Circuito PCMRC em curto com o terra
- Circuito VPWR aberto
- Circuito VPWR em curto com tensão
- Reprogramação PCM
- Produtos de desempenho pós-venda
- Erro de programação PCM
- Erro interno de software do PCM
- PCM danificado
- Relé de alimentação PCM danificado
- Diagnóstico: Reprograme ou atualize a calibração. Verifique se há outros DTCs ou sintomas da unidade para tomar medidas adicionais. Verifique os produtos de desempenho pós-venda antes de instalar um novo PCM.
Neste DTC, já está informado no diagnóstico para reprogramar (atualizar) o módulo do veículo, ou seja, antes de fazer qualquer intervenção no veículo, atualize para a versão mais recente. E neste caso em específico o problema começa na bateria. E você só saberia disso parando para ler a informação completa sobre o erro. A queda de tensão da bateria foi o causador da falha. E se você, ao ignorar a leitura dessa informação, saísse trocando peças do carro e apagando erros?
Este é um dos motivos para que um dos primeiros itens do meu check list esteja o teste de bateria. É uma das causas mais recorrentes de falhas em sistemas.
Se comparar, por exemplo, a diferença de como eu trabalhava antes e a forma como trabalho hoje, seria da seguinte forma: antes, o veículo chegava, eu apagava o erro, o carro não pegava mais, e o problema que era do cliente passava a ser meu. Agora, após realizar um checklist (já constatando a bateria com defeito), faço uma leitura geral dos defeitos do veículo. Após isso, uma boa pesquisa de literatura constataria que o defeito foi causado pela bateria defeituosa (para a qual eu já havia passado o orçamento ao cliente para poder dar andamento no diagnóstico, pois todos os testes dependem da integridade da bateria). Assim, passo três orçamentos ao cliente:
- Custo do diagnóstico que já havia passado o valor para o cliente no caso de ele não autorizar o reparo (pois não foi orçamento e sim um diagnóstico que foi executado).
- Atualização do módulo e troca da bateria.
- Um módulo novo e troca da bateria no caso de a atualização não ser bem-sucedida.
Posso dar mais um exemplo desta importante mudança de cultura dentro da oficina?
Temos vários veículos com DTC P0300 da linha AUDI e VW, em que uma simples atualização de software já é suficiente para resolver o problema. Outro exemplo é o VW Virtus, com 40 mil km em diante, começa um barulho no motor característico de motor batendo biela. Qual a solução? Atualização de software. E pasmem, o último que pegamos, o cliente estava com orçamento para retífica do motor e, com uma atualização de software, o problema foi resolvido.
Caso real, é mais comum do que você imagina:
Em um treinamento de PassThru no ano passado, comentamos deste caso específico da linha VW e um aluno disse “nem me lembra disso”, pois ele havia retificado o motor de um veículo e o barulho de motor rajando biela persistia. Para piorar, quando o carro estava quase pronto para rodar (após desmontar pela segunda vez o motor), o cliente chegou e pediu para ir junto. Constatando que o defeito ainda estava presente, o cliente, nesse tempo em que o veículo estava parado, passou por uma concessionária VW e informaram que era atualização de software da unidade de comando do motor. O cliente voltou para a oficina dele e o levou junto com o carro a concessionária, e após a atualização, o veículo ficou perfeito.
Não preciso nem dizer com quem ficou com o prejuízo, né?