Mais da metade das rodovias brasileiras apresentam condições ruins, enquanto o destaque positivo recai sobre aquelas concedidas à iniciativa privada.
As rodovias brasileiras enfrentam um grave problema estrutural. O Relatório CNT de Rodovias – edição 2024 revela que 67,5% das rodovias avaliadas no país estão classificadas em condições péssimas, ruins ou regulares. Apenas 24,6% foram consideradas boas e apenas 7,9% entraram na classificação de ótimas.
Em contrapartida, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) apresenta uma visão mais otimista para as rodovias federais: segundo o órgão, 75% das estradas sob gestão federal estão em bom estado, marcando o melhor desempenho da série histórica iniciada em 2016 pelo Índice de Condição de Manutenção.
Apesar disso, a situação do restante da malha viária é alarmante. A deterioração é mais evidente na região Nordeste, onde seis das dez piores rodovias brasileiras estão localizadas, abrangendo estados como Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O abandono das estradas na região tem impacto direto no transporte e na qualidade de vida da população.
Principais razões para o quadro crítico das rodovias brasileiras
A precariedade das rodovias brasileiras tem raízes complexas e é agravada pela atual restrição fiscal que compromete os investimentos públicos. Entre os fatores responsáveis pelos números negativos, destacam-se:
- Falta de investimentos suficientes para manutenção, expansão e aumento da segurança nas vias;
- Deficiências técnicas que comprometem a durabilidade e resistência do pavimento;
- Variações climáticas, como chuvas intensas e altas temperaturas, que aceleram a degradação do asfalto;
- Tráfego intenso, especialmente com veículos pesados, que causam desgaste natural das estradas;
- Baixa fiscalização em obras, resultando em reparos de qualidade inferior e fora dos padrões técnicos.
O impacto dessa precariedade é sentido em todos os setores, especialmente no transporte de cargas. Desde a década de 1920, o Brasil adotou uma estratégia de rodoviarismo, priorizando estradas como principal modal logístico. Essa decisão foi essencial para integrar regiões distantes e impulsionar a industrialização por meio do desenvolvimento da indústria automobilística. Atualmente, 58% do transporte de carga do país ocorre por rodovias. Ainda assim, a malha rodoviária pavimentada soma cerca de 200 mil quilômetros, enquanto as estradas não pavimentadas ultrapassam 1,5 milhão de quilômetros.
Concessões privadas: uma alternativa eficiente?
Por outro lado, as rodovias brasileiras concedidas à iniciativa privada apresentam um desempenho significativamente melhor. De acordo com o relatório, 63,1% das estradas sob concessão foram classificadas como ótimas ou boas, enquanto apenas 22,7% das rodovias públicas alcançam o mesmo padrão.
A qualidade superior das concessões é evidente em áreas como pavimentação, considerada ótima ou boa em 67,2% das rodovias privadas, contra apenas 35% no caso das vias públicas. Outro ponto positivo é a sinalização: 64% das estradas privatizadas obtiveram avaliações favoráveis, comparadas a apenas 26,5% das rodovias mantidas pelo Estado.
Enquanto a gestão privada demonstra capacidade de entrega em manutenção e segurança, o setor público enfrenta desafios estruturais que comprometem a mobilidade e o desenvolvimento econômico do Brasil.