Cuidados na troca de fluido em câmbio CVT com alta quilometragem

Troca de fluido em câmbio CVT requer atenção redobrada em veículos com alta quilometragem e histórico de manutenção desconhecido.

A qualidade das mudanças nas transmissões automáticas depende de fatores como materiais de fricção, calibração e corpo de válvulas. No entanto, a troca de fluido em câmbio CVT com alta quilometragem tem se tornado uma preocupação constante entre técnicos em lubrificação e reparadores de transmissões automáticas. Desde que esse tipo de câmbio passou a equipar diversos modelos de veículos, aumentaram os casos de falhas após a substituição do fluido — especialmente quando os hábitos de manutenção do proprietário são desconhecidos.

O tema deste mês trata de um assunto que tem tirado o sono de muitos técnicos em lubrificação e reparadores de transmissões automáticas, desde que o câmbio CVT surgiu nos veículos. Isso acontece sempre que um veículo equipado com uma transmissão CVT entra na oficina para substituir o fluido do câmbio, e o técnico não conhece os hábitos de manutenção do proprietário. Isso porque o cliente chegou por indicação de outro ou algum amigo. Para evitar problemas, o indicado é primeiro fazer uma avaliação da quilometragem e do estado dos componentes internos da transmissão, antes da troca.

Explico porquê. A transmissão CVT depende totalmente do fluido para funcionar corretamente, assim como os demais tipos de transmissão, porém como a tração do veículo é obtida no contato entre a correia ou corrente metálica e as polias variadoras, o óleo desempenha, neste tipo de câmbio, um papel crucial para funcionar corretamente. Isso porque o fluido isola as superfícies metálicas da correia e a superfície das polias, do contato metal/metal.

O esforço continuo deste conjunto de variadores e da correia, principalmente em situações de subida pronunciada, sair com o veículo em ladeiras, nas reduções em descida de serra, entre outras, exige do óleo um trabalho muito grande, pois ele deve ao mesmo tempo transferir tração para as rodas, arrefecer, lubrificar e isolar as superfícies de atrito. As montadoras atualmente recomendam a substituição do fluido a cada 40.000 quilômetros, principalmente em regiões de topografia acidentada, para evitar quebra das moléculas, deterioração do fluido e consequente desgaste e quebra dos componentes internos.

Quando um veículo entra na oficina para substituir o fluido e às vezes também do filtro, a avaliação normal do estado da transmissão não funciona muito, pois o óleo permanece razoavelmente limpo e claro, porém o estado dos componentes da transmissão está além de salvação. Como resultado, após o técnico realizar a troca do fluido e filtros e liberar o veículo, é comum o cliente voltar no guincho plataforma após alguns dias, com a corrente ou correia quebradas e o veículo paralisado. A principal suspeita do cliente é que o fluido colocado não foi o correto ou que o serviço não foi realizado pela oficina com os devidos cuidados técnicos. Isto tem gerado problemas aos técnicos, aos clientes, e provocado mal estar entre as partes, além de implicar em custos muito altos de garantia.

Qual é a causa destas quebras após a substituição do fluido? Eu explico. Em veículos com quilometragens entre 70.000 e 120.000 quilômetros, cujos hábitos de manutenção do cliente não são conhecidos pelo técnico, e que aparecem na oficina sob seus cuidados, NÃO se deve substituir o fluido apenas baseado na análise de seu estado e do suposto estado da transmissão, pois estas são as condições em que a maioria das quebras aparecem. O que acontece é que, como a correia e os variadores estão com desgaste acentuado, devido à deterioração do fluido velho, ao se substituir o mesmo, como o índice de transferência de atrito (agarramento) do fluido novo é bem maior, a correia não resiste à esta transferência de atrito aumentada e acaba quebrando depois de poucos dias.

Em uma recente reunião com a TRANSTEC dos Estados Unidos, a APTTA Brasil alertou o pessoal técnico de lá sobre esta condição. E qual não foi minha surpresa ao saber que, lá o problema é o mesmo! Perguntei então o que os técnicos dos Estados Unidos fazem para lidar com este fato e recebi algumas sugestões que podem ajudar.

Nos casos dos veículos que nunca foram atendidos antes pelo técnico, e vem para executar uma troca de fluido, sendo CVT, nos Estados Unidos agora antes da troca, e acima das quilometragens especificadas, o técnico sugere ao proprietário fazer uma avaliação mais profunda do estado do câmbio, removendo o cárter, o corpo de válvulas, e pela abertura do corpo de válvulas, verificar o real estado da correia metálica e dos variadores, com o auxílio de um boroscópio.

Como os hábitos de manutenção do cliente não são conhecidos ou em alguns casos, o cliente adquiriu o veículo usado e não sabe como a transmissão foi tratada, esta avaliação visual é uma necessidade, para evitar futuros problemas. Os custos desta avaliação adicional são explicados ao cliente e caberá a ele decidir se ela deverá ser feita ou não. Caso o cliente opte por não fazer esta avaliação visual, devido ao custo adicional, o técnico deverá se sentir livre para recusar o serviço ou pedir para que o cliente assine um termo de responsabilidade isentando o técnico de obrigações caso a transmissão venha a falhar no futuro próximo. Como este fato no Brasil, tem sido muito comum, seria bom se os técnicos optassem por esta alternativa.

Se você perceber que as lâminas finas estão desgastadas ou o metal com rebarbas, a correia deverá ser substituída. Verifique também os anéis de aço.

Lembre-se sempre de utilizar o fluido especificado pela montadora, homologado, e evitar assim eventuais processos por parte dos clientes, uma vez que o mercado hoje está infestado de fluidos ditos “multifunção” ou “multi CVT” que na realidade atendem somente em parte os requisitos do fabricante da transmissão, uma vez que ele não foi feito especificamente para uma determinada transmissão.
A maneira de se analisar uma transmissão CVT com o boroscópio foi abordada com imagens na edição 197 (fevereiro 2025), ela mostra exatamente onde verificar e quais as áreas que devem ser observadas. Um ótimo mês de trabalho a todos e até o próximo número.

Carlos Napoletano – Diretor Técnico da Aptta Brasil www.apttabrasil.com

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