Nos seis primeiros meses do ano, os indicadores obtidos na Argentina são positivos. Mas será que estes números são sustentáveis?
Não discuto política, pois considero que para este tema existem grupos especializados. Prefiro me ater aos fatos, a números, estatísticas. Confesso que achava que aquele cabeludo do Milei era estranho e não daria certo. Já vimos em diversos mercados a esperança de um povo se esgotar numa figura que só levou o país para um lugar ainda pior.
Fui consultado para falar sobre a recuperação da Argentina com um enfoque sobre a indústria automobilística pelo TIMES Brasil/CNBC. E por coincidência, o executivo-chefe das Operações JBS Couros/Zenda para Brasil, Argentina, Uruguai, México e Alemanha, Carlos Obregon, me enviou alguns dados bem interessantes sobre o tema.
Segundo publicação de Luís Guilherme Gerbelli em O Estado de São Paulo, no primeiro semestre de 2025 nossas exportações para a Argentina acumularam US$ 9,12 bilhões representando um aumento de 55,4% em relação ao mesmo período de 2024 consolidando a Argentina como o terceiro maior parceiro nas exportações brasileiras com 5,5% do total, perdendo apenas para a líder China (28,7%) e para os Estados Unidos (12,2%).
Especificamente em relação ao mercado automobilístico, segundo o mesmo artigo as exportações brasileiras para a Argentina representaram 60% do total, números que não são vistos desde 2018.
Com os dados da consultoria Jato, em 2019 os veículos brasileiros representavam 44% dos veículos argentinos emplacados naquele ano, número que despencou para 24,6% em 2023 indicando uma queda numérica na ordem de mais de 150.000 veículos nas exportações de cá para lá.
No ano passado, segundo a matéria do jornalista, a exportação bateu na casa dos 34% “representando um aumento de 88.782 unidades em relação ao período de janeiro a junho de 2024. No mesmo período, o volume exportado aumentou em 98.850 unidades, de 165.299 para 264.149”.
E o que justifica essa situação?
Observa-se uma melhora dos indicadores econômicos da Argentina neste primeiro semestre, com destaque para o controle da inflação, a valorização do peso, o avanço do PIB e a queda do risco-país.
Com uma taxa de câmbio favorável, fica conveniente comprar na Argentina, pois fica ‘barato’. Como o mundo dá voltas, aquela sensação que tínhamos no passado de que nossos vizinhos eram baratos, agora está com eles! São eles que se aproveitam do momento e vêm ao Brasil gastar seus pesos.
Além do câmbio existe outro importante instrumento que é o acordo bilateral que incentiva o comércio de produtos manufaturados facilitando os negócios entre os países do Mercosul e que, aparentemente, está funcionando bem entre Brasil e Argentina nos anos mais recentes (já tivemos muitos problemas poucos anos atrás quando a Argentina precisava segurar dólares dentro de suas fronteiras).
A Argentina tem um mercado automobilístico que historicamente é um terço do mercado brasileiro, mas não deixa de ser significativo. Trata-se do segundo maior mercado sul-americano com emplacamentos, em média, entre 650 e 750 mil unidades por ano. Existe uma ampla troca entre autopeças e veículos produzidos aqui e lá que atravessam as fronteiras entre os países complementando a produção entre os dois países. Fiat, Volkswagen, GM, Nissan, Toyota, entre outras, são exemplos desta movimentação denotando uma forte interdependência regional entre os países, tornando, desta forma, a Argentina um grande destino das exportações de automóveis e autopeças brasileiras.
Eu, que acredito na indústria brasileira, só me resta entender se os resultados argentinos recém apresentados não são, como costumamos falar, fogo de palha!
Na época do ex-presidente argentino Carlos Menem, os argentinos chegaram a pensar que estavam ricos e deu no que deu! Torço para que desta vez nossos vizinhos possam, de fato, crescer de forma sustentável e no longo prazo. Depois de anos de instabilidades político-econômicas é bom vê-los melhores. E, como não poderia deixar de existir uma leve e ingênua provocação, nossa indústria ainda é maior e temos Pelé!

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