Durante muito tempo o Brasil não tinha acesso a modelos desejados no mundo inteiro. Essa situação acabou mudando com a abertura do mercado nacional para importações, mas o brasileiro ainda dava o seu jeitinho, para ter a experiência de dirigir um carro estrangeiro. A Revista Reparação Automotiva conta a história dos carros brasileiros que copiaram modelos estrangeiros.
Guepardo (Lancia Beta Montecarlo)
O Guepardo, construído em Porto Alegre pela Guepardo Veículos Ltda. Apresentado em 1982, era um Voyage com traseira encurtada e bem modificado para se transformar em um atraente cupê 2+2 com teto targa destacável. A tampa acanhada do porta-malas do Voyage original dava lugar a uma ampla terceira porta. O para-brisa era mais inclinado e os vidros laterais, menores. Um dos maiores charmes eram os apliques de plástico preto na dianteira e nas laterais.
As soluções estéticas e proporções do cupê lembravam muito as do Lancia Beta Montecarlo fase I (1975-1978), desenhado e produzido em Grugliasco, Itália, pela Pininfarina. Mas enquanto o Montecarlo original trazia um motor Fiat Lampredi bialbero (DOHC) de quatro cilindros, 2 litros e 120 cv, o nosso Guepardo não era tão rápido, com seu motorzinho Volkswagen MD-270 de comando simples, 1,6 litro e 81cv.
Passat Sorana (Passat Variant)
Com as fracas vendas da antiquada Variant II nacional, algumas revendas VW resolveram, por conta própria, transformar o Passat em station wagons. Eram, praticamente, réplicas das Passat Variant de primeira geração (1974-1980) fabricadas pela Volkswagen na Alemanha.
Na capital paulista, a Sorana foi uma das concessionárias a produzir essas “Variant paralelas”, a partir do Passat LSE cinco portas. Mas a obra custava caro e deixou de fazer sentido após o lançamento da Parati, em 1982.
Verona SR (BMW M3 E60)
A concessionária Souza Ramos era conhecida por modificar modelos da Ford. A SR ainda tentou encantar o público com uma transformação de nacional em importado.
A novidade era um kit com a pretensão de dar aos Ford Verona e VW Apolo a aparência do reverenciado BMW M3 geração E30 (1986-1991). O pacote básico incluía capô, para-choques dianteiro e traseiro com spoiler, grade com quatro faróis, “asas laterais com efeito solo” e aerofólio com brake-light.
Como opcionais havia rodas ao estilo das BBS alemãs com pneus 185/60 R14 e revestimento de couro nos bancos e laterais. Pagando um pouco mais, era possível equipar os carros com motor AP-800 (que depois seriam rebatizados de AP-1800) com comando de válvulas, cabeçote, coletores e carburador trabalhados. Com isso, a potência da versão a álcool passava de 92 cv para 105 cv – contra os 195 cv do BMW M3 verdadeiro.
Fusca Cintra (Porsche 959)
Uma caso marcantes e ousado dos carros brasileiros que copiaram modelos estrangeiros foi o Fusca Cintra. O pai da ideia foi Andre Durgante Cintra, que tinha apenas 15 anos. Ele participou de um curso de design de automóveis promovido por Anísio Campos e uma das tarefas nas aulas era criar um pacote de personalização usando como base o Fusca. O jovem propôs um kit para dar ao pacato Volks a aparência do furioso Porsche 959, carro de 450 cv criado em 1985 para participar do Grupo B do Campeonato Mundial de Rali.
O exercício praticado no curso ganhou o mundo real em 1992, na forma de um conjunto de cinco apliques de fibra de vidro que deixavam o Fusquinha com a musculatura do primo rico alemão. O resultado era um carro de aparência divertida, que chamava um bocado de atenção por onde passava. Três exemplares foram montados e parecia que a coisa tinha parado por aí.
Troller (Jeep Wrangler)
Terminamos a nossa lista com aquele que mais fez sucesso, o Troller. Um dos últimos clones feitos no Brasil deu origem a uma marca que resistiria por 26 anos no mercado. Foi em 1995, que o engenheiro Rogério Farias mostrou o jipe que produziria na cidade de Horizonte, no Ceará. Era o Troler, ainda com um “L” só, que tinha linhas decalcadas no Jeep Wrangler da época.
Não havia qualquer preocupação em disfarçar a semelhança: estavam lá os faróis retangulares, os vincos do capô, o rebaixo na linha de cintura, os mesmos contornos dos para-lamas e até as posições dos adesivos com o nome do carro! Só a parte central da grade era diferente para criar alguma identidade própria e evitar problemas com a Jeep.
Com o tempo, o Troller foi evoluindo e ganhando novas linhas. Para ganhar incentivos fiscais no Nordeste, a Ford comprou a Troller em 2007 – mas somente em 2014 é que o valente 4×4 cearense deixou de ter qualquer parentesco visual com o Wrangler YJ. A essa altura, o modelo já havia conquistado a admiração de muitos trilheiros. Com o fim das operações da Ford no Brasil, o Troller também acabou sendo descontinuado.