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Caça de guerra ou cavalo selvagem? O Mustang faz 60 anos

A Ford comemorou os 60 anos de lançamento do Mustang em todo o mundo, inclusive no Brasil, com o anúncio do lançamento de uma edição especial limitada de apenas 1.965 unidades e com itens exclusivos, homenageando o primeiro ano-modelo oficial do veículo.

inspirada no clássico original, será lançada durante o segundo semestre, com a denominação de Mustang 60th Anniversary, e terá como base o modelo GT Premium 2025, com motor V8 5.0, e estará disponível nas versões cupê e conversível, com transmissão manual ou automática.

Com certeza, o novo modelo será um sucesso mundial, como se transformou nesses 60 anos, símbolo de desempenho, de estilo de vida e do espírito de liberdade. Mas o interessante para quem tem menos de 50 anos é conhecer e entender como o Mustang nasceu e o momento importante que envolvia os Estados Unidos no final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960.

Era uma fase pós-guerra, de importantes transformações na sociedade e de retomada da economia. Naquela época, os Estados Unidos viviam um novo momento com seu povo procurando esquecer os resquícios da guerra e sob um clima de expectativa e disposição das pessoas, vivendo ansiosas para descobrir o caminho para equilibrar seus muitos e novos sonhos com o trabalho pesado.

Para a Ford, assim como para outras empresas, a economia deveria retomar seu nível normal, mas o país estava em transformação e mudança e era preciso criar um automóvel que agradasse o público, especialmente uma juventude, empolgada e entusiasmada com uma nova fase de progresso em clima de paz.

O otimismo motivava a nação na trilha de John Kennedy, que tomou posse em janeiro de 1961 e tornou popular o refrão de “Em vez de perguntar o que o país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer para ajudar o país”.

Nesse cenário, o jovem Lee Iacocca, gerente-geral da Ford foi designado para ir à Alemanha para inteirar-se da produção de um Volkswagen compacto, que a Ford denominou como Cardinal, com lançamento previsto para o final de 1962.

Lee Iacocca voltou aos Estados Unidos com a certeza de que o novo produto era bom para mercado europeu, mas muito pequeno para os consumidores jovens dos Estados Unidos. Muito diferente do que Iacocca imaginava e, em sua opinião, seria outro fracasso como ocorreu com o Edsel, no final da década de 50. Iacocca considerou o automóvel muito pequeno e sem espaço no porta-malas e, embora fosse econômico, não tinha estilo atraente.

O voo para o conhecimento do carrinho alemão deu a Iacocca a certeza de que convenceria a diretoria a lançar o Mustang. O estilo do carro de sonho de Iacocca tinha como características básicas o capô longo e a traseira curta, que transmitiam o aspecto de energia e capacidade e, na visão de Iacocca, era isso que as pessoas desejavam além de estilo esportivo, com toque de nostalgia e que, para Iacocca, era isso o que as pessoas esperavam.

Iacocca e a equipe de produção do automóvel estabeleceram que ele ficasse pronto em abril de 1964 e organizaram uma competição entre os melhores designers da empresa que em duas semanas apresentassem suas propostas.

A Revista Reparação Automotiva fez a reparabilidade do Mustang Mach1, confira como foi.

O vencedor foi o projeto de Dave Ash e quando o chefe do estilo convidou Iacocca para apresentar o design, o idealizador do automóvel exclamou que, embora estivesse no chão do estúdio, dava a impressão de um felino, que parecia estar se movendo e, por isso, foi chamado de Cougar.

Cougar? O nome foi outro grande desafio da equipe de Iacocca. A escolha do nome do novo automóvel foi decidida em uma reunião estratégica entre quatro opções: Monte Carlo, Mônaco, Torino e Cougar. E o grupo preferiu Torino.

Mas quando estavam na campanha promocional para o Torino, receberam telefonema do principal executivo de Relações Públicas da empresa com a recomendação de excluir o nome Torino porque Henry Ford II estava se relacionando com Cristina Vettore Austin, uma italiana jet-set que conhecera em uma festa em Paris e alguns assessores comentaram que dar um nome italiano ao novo carro poderia provocar uma publicidade desfavorável e criar embaraços para Henry Ford II.

Então, a equipe de trabalho recorreu à agência J. Walter Thompson, que possuía um especialista em nomes, chamado John Conley, a quem foi pedido para ir à Biblioteca Pública de Detroit para procurar nomes de animais. Conley, depois de um exaustivo trabalho, sugeriu seis nomes: Bronco, Puma, Cheetah, Colt, Mustang e Cougar.

Reparem que desses seis, quatro se transformaram em modelos da Ford.

Como o nome Mustang era o de um dos protótipos do carro, foi aprovado por todos, inclusive pela agência de publicidade, por ser excitante e americano.

Apesar de o emblema do Mustang ser de um cavalo selvagem, a origem do nome não fazia referência aos cavalos selvagens das pradarias do Oeste, mas a um avião de combate da Segunda Guerra Mundial.

Para conquistar os americanos, o comitê de lançamento dedicou especial atenção ao seu interior que deveria ser comparado às versões de luxo e de alto desempenho, com itens como bancos reclináveis, revestimento em vinil, rodas cobertas e acabamento de padrão elevado.

Antes do lançamento, a Ford promoveu uma série de pesquisas para conhecer a expectativa do público. Em evento com 52 casais residentes em Detroit, proprietários de carros standards, todos da faixa média de rendimentos e que não eram candidatos a um segundo carro, a fabricante incluiu uma pergunta sobre o preço do carro e a maioria chegou a indicar um valor pelo menos mil dólares a mais que o preço fixado pela Ford.

No dia 9 de março de 1964, o primeiro Mustang saiu da linha de montagem e a Ford havia decidido produzir 8.160 carros antes do dia do lançamento para que cada revendedor do país tivesse pelo menos uma unidade no showroom.

No dia 17 de abril, todos os revendedores estavam lotados de clientes, como em dia de festa nacional e grande parte deles tiveram que trancar as portas porque o número de interessados foi grande demais. Em Pittsburgh, o revendedor informou que os clientes invadiram a loja a ponto de ele não poder tirar o carro da área de lavagem e, em Detroit, o proprietário informou que tantas pessoas chegaram para ver o Mustang que o estacionamento ficou parecendo um desfile de carros estrangeiros.

Nos meus tempos de Ford, pude conviver, mesmo que em poucas oportunidades, com Henry Ford II e com Lee Iacocca. Confesso que, nos relatos de Iacocca em seu livro, percebi uma diferença no diálogo com Henry Ford II, o que me causou estranheza. Considerei que houvesse ocorrido um desgaste no relacionamento entre esses dois grandes empresários industriais.

Posteriormente, lembrei de outro fato surpreendente. Por ocasião de uma visita de Lee Iacocca ao Brasil estranhei o pedido de Henry Ford II da gravação do discurso de Lee Iacocca, realizado em São Paulo que, naturalmente, atendemos prontamente.

Algum tempo depois, em 1978, Lee Iacocca foi demitido por Henry Ford II, mas rapidamente recebeu convite para a presidência da Chrysler, onde notabilizou-se por ter colocado a empresa em plena recuperação de seu prestígio no mercado, por intermédio de um empréstimo feito pelo governo.

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