Treinamentos das fábricas: uma ferramenta essencial, mas cada vez mais rara

Reparadores de diversas regiões do Brasil avaliam a qualidade dos treinamentos oferecidos pelas fabricantes para a aplicação correta de seus produtos

📌 Por: Edison Ragassi | Fotos: Divulgação

A evolução constante dos automóveis exige que os profissionais da reparação acompanhem essas mudanças para permanecerem competitivos no mercado. Nesse cenário, os treinamentos e palestras técnicas promovidos pela indústria de autopeças desempenham um papel crucial no aprimoramento dos mecânicos.

Com o objetivo de conectar fabricantes e reparadores, a Revista Reparação Automotiva conversou com profissionais do setor em diversas regiões do Brasil. Eles compartilharam suas experiências sobre o suporte oferecido pelas indústrias e as principais lacunas desses treinamentos, considerados fundamentais para o crescimento do mercado de manutenção automotiva.

A especialista em mecânica automotiva Luciana Félix, gestora da Oficina da Lu, em Belo Horizonte (MG), destaca a importância dos treinamentos oferecidos pelos fabricantes, mas nota uma redução gradual dessa prática.

🗣️ “Quando comecei há 15 anos, não entendia de mecânica, pois minha formação era em administração. Mas os treinamentos realizados nas fábricas foram fundamentais para meu aprendizado. Eles me ajudaram a compreender a engenharia por trás das peças, garantindo mais confiança ao vender e aplicar os produtos corretamente.”

Luciana também promove treinamentos internos para sua equipe e reforça a necessidade da continuidade dessas capacitações:

📌 “Após a pandemia, muitas empresas reduziram ou cortaram os cursos alegando custos. No entanto, investir na qualificação do reparador traz retorno garantido para a indústria e para os clientes. Na minha oficina, faço questão de manter minha equipe atualizada e transmitir conhecimento aos clientes, especialmente às mulheres, que muitas vezes não têm informações sobre as peças e suas aplicações.”


Falta de treinamentos em algumas regiões do Brasil

Para Marcos Vinícius Pimenta Rocha, da Carzuza Centro Automotivo em São Luís (MA), os fabricantes de autopeças não priorizam seu estado, o que gera um distanciamento entre a indústria e os reparadores.

🗣️ “No Maranhão, há poucos técnicos e promotores para ministrar palestras e compartilhar informações. Quando há eventos, o foco muitas vezes é comercial, e não técnico. Precisamos de mais capacitação para reduzir falhas e melhorar a aplicação das peças.”

Ele cita como exemplo positivo a iniciativa Reparador Fiat, que oferecia acesso a manuais e catálogos de veículos fora da garantia:

📌 “Esse tipo de ação fortalece a relação entre marca e reparadores, além de impulsionar vendas ao facilitar a manutenção dos veículos.”


Treinamentos com foco técnico ainda são insuficientes

Marcos Boff, da AutoBoff Peças e Serviços e diretor do Sindirepa-SC, aponta que os treinamentos das fábricas carecem de mais profundidade técnica.

🗣️ “Os treinamentos são úteis, mas faltam informações essenciais, como tabelas de torque de aperto. Muitas vezes, os instrutores atuam mais como promotores comerciais do que como técnicos qualificados.”

Ele relembra um caso de uma fabricante de peças de freio que costumava oferecer treinamentos completos, desmontando veículos item por item e detalhando o uso correto das ferramentas:

📌 “Esse tipo de treinamento era fundamental, mas, com mudanças na empresa, ele foi descontinuado. Hoje, há menos instrutores técnicos disponíveis, e isso prejudica a qualidade do serviço nas oficinas.”


Dificuldades logísticas no Amapá afastam treinamentos

No Amapá, a realidade é ainda mais desafiadora. Osmidio Pereira Neto, diretor da Contrapino Serviço e Treinamento Automotivo em Macapá, destaca que a logística complexa da região dificulta a realização de cursos presenciais.

🗣️ “Nos últimos tempos, nenhuma empresa veio até aqui. No final de março, dois representantes prometeram enviar técnicos ainda este ano, mas já ouvimos de outras fábricas que só terão disponibilidade em 2026.”

Para contornar essa barreira, Osmidio busca alternativas:

📌 “Criamos um projeto com o SEBRAE para trazer especialistas de outras regiões. Também participo de mais de 40 grupos técnicos para trocar informações e manter-me atualizado.”


Reavaliar as estratégias é essencial para atrair os reparadores

Everton Luiz Peroni Almeida, do Centro Automotivo Everton Peroni em Vitória (ES), critica a abordagem atual dos treinamentos, que considera desatualizada e pouco prática.

🗣️ “Os técnicos enviados pelas fábricas agem como promotores de vendas, trazendo catálogos e divulgando a marca, mas sem fornecer conhecimento técnico real. Isso não funciona mais.”

Ele sugere um novo modelo de treinamento:

📌 “Precisamos de cursos que ensinem o ‘pulo do gato’ da manutenção. As fabricantes deveriam desmontar motores, apresentar ferramentas e fornecer tabelas de torque. Esse tipo de conteúdo gera valor para o reparador e fortalece a marca.”

Para Everton, a falta de treinamento prático gera desconfiança em relação a algumas marcas:

🗣️ “Os mecânicos confiam em produtos de qualidade, mas, sem treinamento, alguns preferem não arriscar e deixam de comprar determinadas peças.”


Conclusão: Capacitação técnica é fundamental para o setor automotivo

Os depoimentos mostram que, apesar da importância dos treinamentos oferecidos pelas fabricantes de autopeças, há desafios significativos a serem enfrentados:

✔️ A redução da oferta de treinamentos após a pandemia
✔️ A falta de prioridade para algumas regiões, como Maranhão e Amapá
✔️ O foco excessivo em vendas, em vez de conteúdo técnico relevante
✔️ A necessidade de treinamentos mais práticos e detalhados

Diante desse cenário, fabricantes que investirem na capacitação real dos reparadores terão uma vantagem competitiva, fortalecendo sua marca e garantindo a fidelidade dos profissionais do setor. Afinal, um reparador bem treinado é um multiplicador de conhecimento e confiança para os clientes. 🚗🔧

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