O Diagnóstico de defeitos causados por maus contatos nas transmissões modernas

Nos veículos modernos, com sistemas de controle eletrônico altamente integrados, uma conexão elétrica irregular ou comprometida pode causar inúmeros problemas.

Figura 1

Essas falhas podem gerar códigos de erro intermitentes, falhas de dirigibilidade e até simular defeitos mecânicos inexistentes, levando a diagnósticos incorretos, substituição desnecessária de peças e insatisfação do cliente.

Recentemente, dois casos ilustraram bem a importância de um diagnóstico elétrico completo e da necessidade de olhar além do óbvio.

Caso 1: Nissan Sentra 2019 – Um conto de duas transmissões

O primeiro veículo foi um Nissan Sentra 2019, que chegou à oficina com sérias queixas de dirigibilidade: patinação da transmissão, ruídos e perda de tração.

O diagnóstico inicial indicou dois códigos de falha:

  • P0868 – Baixa pressão de fluido
  • P17F0 – Trepidação do CVT

A inspeção revelou fluido em nível correto, porém com odor de queimado e resíduos em suspensão, sugerindo danos internos. A recomendação foi substituir a transmissão CVT por uma unidade remanufaturada.

Após a substituição, surgiram novos problemas: engates duros em Ré, demora de 5 segundos ao engatar DRIVE e trancos fortes com limitação de movimento. Novos códigos apareceram:

  • P0846 – Sensor de pressão de fluido/Circuito do interruptor B
  • P0965 – Circuito do solenoide de controle de pressão B

Tentativas de reaprendizado da embreagem auxiliar falharam. Tudo indicava outra falha interna, mas antes de acionar a garantia, foram checados alimentação, aterramento e conectores, todos aparentemente normais.

Uma nova transmissão foi solicitada, mas apresentou os mesmos sintomas. Nesse ponto, o diagnóstico aprofundado revelou corrosão verde nos pinos inferiores do conector principal do chicote da transmissão.

Após limpeza e aplicação de graxa dielétrica, a transmissão voltou a funcionar perfeitamente e o reaprendizado foi concluído com sucesso.

A inspeção das carcaças confirmou:

  • A transmissão original estava limpa.
  • A unidade remanufaturada apresentava múltiplos pinos corroídos e infiltração de fluido.

Conclusão: o problema não estava no chicote do veículo, mas sim na primeira transmissão remanufaturada. O caso foi reportado ao departamento de garantia.

Figura 2
Caso 2: Jeep Grand Cherokee 2011 – Quando os aterramentos aprontam

O segundo caso envolveu um Jeep Grand Cherokee 2011 que chegou à oficina em modo de segurança, com uma longa lista de códigos de falha:

  • P0882 – Sinal baixo de alimentação do TCM
  • P0846 – Sensor de pressão do fluido da transmissão / Circuito B
  • P0871 – Sensor de pressão do fluido / Circuito C
  • P0988 – Sensor de pressão do fluido / Circuito E
  • P0876 – Sensor de pressão do fluido / Circuito D
  • P0706 – Sensor de posição da transmissão / Desempenho
  • P0716 – Sensor de rotação da turbina
  • P0721 – Sensor de rotação de saída / Desempenho
  • P1764 – Válvula solenoide da embreagem direta

A variedade de códigos apontava para falha elétrica, não mecânica.

Após limpar os códigos, o veículo funcionou normalmente por cerca de 12 km antes de entrar novamente em modo de segurança. Ao testar os circuitos, observou-se que ao fechar o capô, a voltagem caía – repetidamente.

Batidas leves no módulo TIPM também causavam flutuação da tensão, o que levou à substituição do módulo e dos fios de alimentação. Após a troca, o problema inicial foi resolvido.

Contudo, surgiram novos códigos relacionados a sensores de rotação:

  • P0706 – Circuito do sensor de posição da transmissão
  • P0716 – Sensor de rotação da turbina
  • P0721 – Sensor de rotação de saída
  • P1794 – Erro de aterramento do sensor de rotação
Figura 3

Todos os códigos eram relativos à desempenho e sensores de rotação. Ao consultar o diagrama elétrico verificamos que, enquanto os sensores de pressão eram alimentados através do módulo TIPM, os sensores de rotação eram controlados diretamente pelo PCM através do conector G4.

Após uma inspeção do conector G4, ele foi removido com uma força mínima – sem pressionar a trava de remoção do conector ou clique de segurança. O clipe de retenção estava quebrado, e o conector não assentava devidamente (Veja figura 3).

Um novo conector foi requisitado, instalado e fixado ao PCM. Após limpar os códigos de falha e executar um teste final de estrada, o veículo operou sem problemas.

Falhas elétricas: diagnósticos além dos códigos

Esses dois casos evidenciam uma lição importante: os códigos de falha são apenas o ponto de partida.

Em ambos os exemplos, o diagnóstico inicial apontava falhas internas na transmissão, mas a causa real estava nas conexões elétricas – corrosão em um caso e mau contato no outro.

Nas transmissões modernas, os sistemas eletrônicos são cada vez mais complexos, e a capacidade de diagnosticar falhas elétricas com precisão é uma competência essencial para os técnicos automotivos.

Muitas vezes, a solução não está na transmissão em si, mas nas suas conexões.

Até o próximo mês e um ótimo trabalho a todos!

Carlos Napoletano
Diretor Técnico da Aptta Brasil

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