Liderança feminina

Liderança feminina e diversidade no setor automotivo

A liderança feminina e diversidade é uma questão de estratégia, inovação e sobrevivência de mercado.

Como filha de mecânico, por muitos anos percebi a presença feminina no setor automotivo como algo visto como exceção. Oficinas, concessionárias, fábricas e lojas de autopeças eram ocupadas majoritariamente por homens, e a ideia de uma mulher assumir cargos de liderança soava improvável.

Felizmente, esse cenário está mudando — ainda que de forma lenta. Hoje, falar de liderança feminina e diversidade não é apenas uma questão de representatividade, mas de estratégia, inovação e sobrevivência de mercado.

A diversidade traz novas perspectivas, desafia padrões engessados e amplia a capacidade de resposta às demandas de um consumidor que também mudou. Cada vez mais, clientes querem ser atendidos por equipes que reflitam a sociedade real — plural, inclusiva e diversa. É nesse contexto que a liderança feminina ocupa um papel fundamental.

Quando uma mulher assume a liderança, não se trata apenas de quebrar barreiras simbólicas. Trata-se de transformar a forma como se faz gestão. Estudos demonstram que líderes mulheres tendem a adotar estilos mais inclusivos, participativos e com foco no desenvolvimento da equipe. Por exemplo, comparações de estilos apontam que mulheres recorrem mais a práticas colaborativas e à consulta nos processos decisórios.

No Brasil, embora ainda haja sub-representação nos altos cargos, já há sinais de progresso. Segundo estudo da FIA, em 2023 as mulheres ocupavam cerca de 38% dos cargos de liderança nas empresas brasileiras analisadas. Em outro panorama, um levantamento com empresas de capital aberto apontou que elas ocupam apenas 16,1% dos cargos de liderança entre mais de seis mil funções avaliadas. E conforme o Panorama Mulheres 2025, entre 310 empresas, apenas 39 têm presidente mulher — cerca de 17%.

No setor automotivo, onde a pressão por resultados e a busca por soluções rápidas são constantes, ter lideranças que unem firmeza e sensibilidade pode ser o diferencial entre uma equipe desmotivada e um time de alta performance. Além disso, abrir espaço para mulheres significa ampliar o leque de talentos, aproveitando competências que historicamente foram invisibilizadas.

Mas ainda existem desafios. O preconceito velado, a falta de oportunidades de capacitação e a dificuldade de conciliar múltiplas jornadas são barreiras reais que muitas mulheres enfrentam. Estudos brasileiros destacam que características culturais, como o machismo e a discriminação de gênero, continuam sendo apontadas como obstáculos mais frequentes do que a própria conciliação entre trabalho e vida pessoal.

Empresas comprometidas com ética e postura inclusiva precisam atuar aqui: oferecendo programas de desenvolvimento, repensando modelos de contratação e criando políticas que valorizem a equidade.

A liderança feminina no setor automotivo não é moda passageira. É um movimento necessário para que o mercado avance de forma sustentável, inovadora e humana. A diversidade não é custo — é investimento.

E cada profissional, homem ou mulher, tem a responsabilidade de apoiar essa mudança.

O futuro do setor será mais potente quanto mais vozes diferentes puderem acelerar juntas.

Eva Paiva
Contadora, palestrante, escritora e mentora de negócios com mais de 15 anos de
experiência no setor automotivo.
Fundadora do Instituto Mulheres V8, atua inspirando e
desenvolvendo líderes e empreendedores por meio da educação, representatividade e autoliderança.

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