A história da PEUGEOT no Brasil está diretamente ligada ao que há de mais avançado em manufatura e mobilidade desde o século XIX. O leão carrega consigo o espírito do tempo, e sua maior tradição é inovar. Esta série de textos vai mostrar como a marca sempre mantém seus olhos no futuro, mas sem esquecer dos caminhos que a levaram ao sucesso.
O REDESCOBRIMENTO DO BRASIL
O tempo passa rápido como um PEUGEOT e-208 GT. Lá se vão 30 anos desde que os carros da Peugeot chegaram oficialmente ao Brasil, em 1992. Mas essa história começa pouco antes da reabertura do mercado nacional aos automóveis importados, oficializada em maio de 1990.
Em setembro de 1988, o Grupo Monteiro Aranha assinou um contrato com a PEUGEOT. O objetivo era aproveitar o acordo comercial que possibilitava a importação de carros da Argentina e trazer o sedã 505. O modelo era produzido em Palomar pela Sevel (parceria local entre Fiat e PEUGEOT). Mas a fabricante francesa queria mais do que apenas ser representada por um importador.
Em junho de 1990, representantes da marca se reuniram com a equipe econômica do governo Collor. As primeiras conversas já incluíam a construção de uma fábrica nacional, que anos depois tornou-se a unidade de Porto Real (RJ).
Enquanto planejava sua expansão na América do Sul, a PEUGEOT fazia investimentos para tornar suas operações mais sustentáveis. Em março de 1991, a empresa inaugurou, em Lyon, a primeira unidade de reciclagem de materiais construída por uma fabricante de veículos. Vidros, borrachas e plásticos de carros que virariam sucata passaram a ser reaproveitados.
OS PRIMEIROS LEÕES
A PEUGEOT investiu aproximadamente US$ 20 milhões nessa primeira fase. A matriz detinha 70% da operação brasileira, enquanto 30% pertenciam ao sócio, o Grupo Monteiro Aranha. As vendas tiveram início em agosto de 1992.
As duas primeiras lojas foram abertas em São Paulo, uma no bairro dos Jardins e outra no centro da cidade. Os anúncios das concessionárias traziam a frase “Dirija-se ao 1º mundo”.
Quer saber mais sobre a linha 200 da Peugeot? A Revista Reparação Automotiva te conta.
O modelo de entrada da marca era o PEUGEOT 205 SX, equipado com motor 1.4 a gasolina (75 cv). O compacto vinha do Uruguai e chegava ao Brasil com redução de impostos. Também havia um acordo comercial vigente entre os dois países desde os anos 1980. A versão esportiva GTI e o conversível CTI, ambos importados da França, completavam a família de compactos.
Em testes feitos por jornais e revistas especializadas, o 205 GTI partiu do zero e chegou aos 100 km/h em menos de 9s. Não havia nada tão rápido entre os hatches nacionais. A potência de seu motor 1.9 era de 130 cv.
PEUGEOT 605, UMA VISÃO FRANCESA DO LUXO
E havia um outro modelo de pequeno porte: o simpático 106 XT, que chegava ao Brasil apenas um ano após ser lançado na Europa. Ele também era importado da França, da mesma forma que o carro mais luxuoso da linha: o 605 SV 3.0 V6 (170 cv).
O sedã impressionava com seus 4,72 metros de comprimento. Seu ar-condicionado tinha regulagem automática de temperatura e mostrador digital, enquanto os bancos dianteiros traziam ajustes elétricos e aquecimento. Eram itens raríssimos na época, bem como o teto solar com abertura eletrônica, o computador de bordo e o CD player.
A tradição da marca em colorir o trânsito mundo afora permitiu trazer diferentes combinações de tons até para seu topo de linha. Uma das opções era a carroceria azul topázio – ou melhor, bleu topaze – com o interior de couro creme.
E, claro, havia os modelos da Argentina: além do sedã 505, veio a picape 504. Movida a diesel e com 1.300 quilos de capacidade de carga, foi um sucesso imediato de vendas.
Mas a grande aposta no início das operações foi o terceiro modelo importado da França: o sedã 405, que havia feito história na Europa ao estabelecer uma pontuação recorde na eleição Car of the Year 1988. Pouco antes da chegada do modelo, a marca levou jornalistas brasileiros para conhecê-lo na região da Borgonha.
A versão esportiva Mi16 foi a que mais chamou a atenção dos convidados. A potência de seu motor 2.0 16V chegava a 160 cv graças a tecnologias como o uso de uma bobina por cilindro no sistema de ignição. Essa solução nasceu nas competições dominadas pela PEUGEOT, que acumulava vitórias em diferentes campeonatos.
A estreia no Brasil coincidiu com títulos importantes para a marca. Em junho de 1992, a PEUGEOT conquistou as 24 Horas de Le Mans com os pilotos Derek Warwick, Yannick Dalmas e Mark Blundell, que se alternaram ao volante do protótipo 905. Além disso, veículos da marca venceram o rali Paris-Dakar entre 1987 e 1990. Um dos carros campeões do rali esteve em exibição no primeiro contato da PEUGEOT com o grande público no Brasil: a 17ª edição do Salão do Automóvel de São Paulo, em 1992. O modelo escolhido foi o que garantiu as vitórias de Ari Vatanen em 1989 e 1990 na prova mais difícil do mundo. Era um Peugeot 405 T16 Grand Raid, turbinado – tinha cerca de 400 cv! – e preparado para o pior. Seu apelido não poderia ser outro: Leão do Deserto.
ELETRICIDADE E EXPANSÃO
O conversível PEUGEOT 205 CTI também se destacou no salão ao ser exibido em uma versão com motor elétrico. Esse protótipo mostrava que a marca via a eletrificação como parte essencial do futuro da mobilidade, mas essa história fica para o próximo capítulo.
Um ano após a mostra de 1992, a Peugeot já tinha 25 lojas no Brasil e oferecia produtos em todos os segmentos. A alíquota de importação, que no início era de 85%, havia caído para 35% em junho de 1993. Era a hora de trazer uma nova versão de entrada, e com motor 1.0.
O modelo escolhido foi o 205 Junior, com interior forrado de tecido semelhante ao jeans. Na estrada, a 90 km/h, era capaz de rodar 20,8 quilômetros consumindo apenas um litro de gasolina. Seu motor de 50 cv foi o mesmo usado em diversas versões do 106 a partir de 1994.
Em outubro de 1993, Thierry PEUGEOT confirmou o desejo de transformar o 405 no principal produto da marca. Daí começou uma campanha com propagandas memoráveis em jornais e revistas. Uma delas, publicada em novembro daquele ano, trazia a seguinte frase: “O carro que Santos Dumont usava em Paris era um Peugeot. Entendeu agora por que ele inventou o avião?”.